A era da criatividade com super poderes

Toda mudança traz desconforto. Não importa se estamos falando de escolher um prato diferente no restaurante de sempre, de passar uma temporada em outro país ou de adotar uma tecnologia que promete ser totalmente disruptiva para o negócio, mudar incomoda.

E por isso a primeira reação às mudanças costuma ser com o fígado e não com o cérebro. Faz parte da maneira como o ser humano foi construído. Nosso “sistema operacional” ancestral entra em estado de alerta em situações desconhecidas, pronto para ativar o “modo de fuga” ou “modo de sobrevivência”.

Em uma rua escura, ficamos alertas e prontos para sair correndo – mesmo que no fim das contas o barulho tenha sido produzido por um gato remexendo o lixo. Esse mesmo “modo de sobrevivência” tem aparecido em muito do que se fala sobre Inteligência Artificial ultimamente.

Relatórios bradando um corte gigantesco de empregos ou condenando a humanidade a viver sob o domínio de máquinas são aterrorizantes, e com razão: a tecnologia muda a maneira como vivemos hoje. Mas isso não necessariamente é ruim. Pelo que a história mostra, por sinal, a evolução tecnológica tem sido muito boa para nós.

Pense, por exemplo, na saúde. Há dois séculos (o que é um nada se compararmos aos bilhões de anos do planeta), mesmo reis viviam em uma condição insalubre, as doenças dizimavam povos e a expectativa média de vida era pouco mais da metade da que temos hoje.

Nas comunicações, nosso mundo interconectado, em que tudo se torna conhecido em questão de minutos, é coisa de 20 anos. Cresci em uma casa com uma televisão que transmitia meia dúzia de canais. Hoje, temos uma Biblioteca de Alexandria ao nosso alcance na ponta dos dedos.

Não que não existam problemas, mas entre hoje e o passado sem o verniz da nostalgia, dificilmente alguém preferiria a segunda opção. Estamos sempre em evolução – e a Inteligência Artificial é o próximo passo.

A Era da Criatividade

Quando entrei no mercado de trabalho, era questão de orgulho dizer que vivíamos a Era do Conhecimento. A chegada dos computadores às empresas e a capacidade incrível de armazenamento de dados (em disquetes de 5 ¼” com incríveis 1.024 kB) já eram um enorme avanço e abriam espaço para coletarmos e gerarmos conhecimento como nunca.

E, de fato, nas últimas décadas avançamos muito nessa jornada. Nos últimos dois anos, gerou-se mais informação do que em toda a história humana – e essa expansão continua sendo exponencial. O grande diferencial, agora, não está em acumular conhecimento (o Google faz isso por nós). Estamos entrando na Era da Criatividade.

Nunca antes na história do marketing a criatividade e a originalidade foram tão importantes quanto serão a partir de agora. E a razão para isso tem nome e sobrenome: Inteligência Artificial.

A IA de forma geral, e a IA Generativa em particular, ganhou um status quase mítico, mas podemos resumir seu papel de uma forma bastante simples: um mecanismo capaz de gerar respostas com base em uma infinidade de dados inseridos. E é justamente aqui que mora o problema…

O sonho é uma IA capaz de funcionar como um oráculo, trazendo soluções inesperadas e grande sabedoria. Mas, na prática, trata-se de um algoritmo que processa em alta velocidade a informação que recebe. Tenha dados de alta qualidade e as respostas serão boas. Tenha dados ruins e os resultados serão trágicos.

Cada vez mais, a Era da Criatividade é uma era de interação do homem com a máquina. Os mecanismos de Inteligência Artificial estarão cada vez mais acessíveis, disponíveis em toda parte para uso. Mas somente quem souber dialogar com a IA e extrair o melhor resultado da tecnologia vai se diferenciar.

E, em um mundo em que todo mundo usa IA, como se diferenciar?

Pelo talento criativo, pela bagagem, pelo repertório.

De forma muito direta: pessoas rasas não vão conseguir extrair bons resultados da Inteligência Artificial. Pessoas inteligentes e interessantes, com amplo conhecimento e capacidade de conexão de ideias, farão coisas incríveis.

Precisaremos ter cada vez mais conteúdo para nos diferenciarmos. A experiência fará toda a diferença. O que uma pessoa sem conteúdo faria se tivesse 15 minutos com Steve Jobs ou Albert Einstein? Talvez nem reconhecesse a grandeza do momento. E hoje temos mais de 15 minutos com uma máquina que está processando informações, dados e inteligência em uma velocidade infinitamente maior.

Por isso, se a pessoa que estiver fazendo as perguntas para a Inteligência Artificial não tiver repertório para fazer as perguntas corretas e dialogar com a máquina, conseguirá extrair muito pouco.

A corrida não termina nunca

Qual é a consequência direta disso? Todos nós precisaremos estudar cada vez mais. Deixe de lado aquela fantasia de que uma inteligência dirá exatamente o que precisamos saber, no momento exato. Na prática, será preciso ter cada vez mais preparo para escapar da comoditização.

Hoje em dia isso já acontece em nossas vidas. Perguntas simples todo mundo consegue fazer. Jogar jogo da velha, todo mundo consegue. Mas cada um de nós precisará jogar xadrez em 4 dimensões se quisermos fazer a diferença. Criatividade e aprendizado contínuo serão as regras do jogo – e uma coisa alimenta a outra.

Não deixa de ser um enorme paradoxo: quanto mais você estudar, pesquisar e tiver condição de desafiar uma máquina que tudo sabe e que absorve conhecimento de forma instantânea, mais poderoso você mesmo ficará. Você vai ganhar super poderes. Esse não é um poder que acontece passivamente: somente quem se dedicar será capaz de se diferenciar.

É claro que isso é desconfortável. Saber que o conhecimento de hoje estará obsoleto em breve nos obriga a não parar nunca – e nem todo mundo está disposto a encarar esse desafio. Mas isso não é motivo para ligarmos nosso “modo de sobrevivência”, e sim uma imensa oportunidade para criarmos um diferencial a partir de uma tecnologia que pouca gente ainda entende realmente como funciona.

Você está pronto para essa oportunidade?

Léo del Castillo
Léo del Castillo
"Rápido é o que não volta pra trás." Essa frase ficou no vidro da agência por vários e vários anos. Criar a cultura do pensamento "lean digital" e fazer isso chegar até o chão de fábrica é, ainda hoje, um enorme desafio para as empresas que começam a fazer esse exercício.