Tecnologia é legal, mas pessoas são 100%

Nas últimas semanas, publiquei dois artigos trazendo alguns “insights expandidos” que começaram inspirados na NRF Big Show 2024, mas têm um alcance que vai muito além. Seja trazendo 3 passos para garantir sua jornada de crescimento ou falando dos 4 elementos fundamentais para fazer essa jornada acontecer, podemos extrapolar as ideias desses artigos para todo segmento de negócios – e até mesmo para o desenvolvimento pessoal.

O feedback que tive de colegas, amigos e contatos no LinkedIn foi excelente e me fez refletir sobre um outro ponto, que muitas vezes fica lá em terceiro ou quarto plano diante da empolgação com novas tecnologias. Não importa o que você queira fazer em seu negócio, se as pessoas não estiverem com você, nada vai acontecer.

Existem mil maneiras de formatar essa importância das pessoas.

Vejo isso no dia a dia da Hagens: eu e meus sócios nos reunimos formalmente de tempos em tempos para avaliar a estratégia do negócio, mas o que realmente faz a empresa andar é o contato com o time. Falar com cada pessoa, conhecer seu nome, sua história até chegar aqui, seu time do coração e/ou seus hobbies, entender seus pontos fortes e oportunidades de melhoria – é nessas interações que construímos o presente e o futuro. De qualquer negócio.

CPFs vendem para CPFs

Me incomoda um pouco o discurso corporativo que “esfria” as empresas. Sabe aquela coisa de dizer que “estamos estruturados para colocar o cliente no centro, dentro de nossa missão de trazer a excelência e o propósito de fazer um mundo melhor”? Mas o que significa isso na verdade, no dia a dia, na hora que o cliente está na fila do caixa sendo atendido?

O fato é que, por mais que os CNPJs façam discursos bonitos, na verdade os CPFs compram de CPFs. Quem nunca manteve uma conta aberta no banco porque o gerente era muito legal, ou que não comprou alguma coisa na perfumaria só porque a vendedora era muito simpática, que atire a primeira pedra.

Somos pessoas, gostamos de nos relacionar com pessoas e, se possível, preferimos ser atendidos por pessoas.

A digitalização da sociedade, o uso intensivo das redes sociais e a automação dos processos de venda são, no fundo, sintomas de uma questão muito difícil de abordar. Especialmente nas grandes cidades, somos engolidos por um estilo de vida super acelerado, que nos obriga a olhar somente para o que é melhor para nós no curto prazo e, aos poucos, vai nos cortando das relações humanas. Mas pessoas gostam de estar em meio a pessoas – e por isso as empresas que realmente se destacam no longo prazo são as que cuidam de seus times.

Na NRF Big Show, um dos grandes destaques foi a Wegmans, uma rede de supermercados fundada em 1916 e que recentemente abriu seu primeiro ponto de venda em Nova York. Nos últimos 108 anos, aconteceu de tudo no mundo, de guerras a pandemias (no plural…), uma evolução tecnológica incrível que parece ter tornado o mundo instantâneo, mudanças na moda e nos costumes. Mas, se pudéssemos voltar no tempo e bater um papo com os irmãos John e Walter Wegman, veríamos que eles não eram diferentes de nós: eles também queriam ter uma vida repleta de propósito.

Mas propósito não é somente uma expressão bonita para vender livros ou incluir nas apresentações de diretoria. Propósito é aquilo que faz brilhar os olhos de alguém. E para cada pessoa, será algo diferente. Por isso, qualquer empresa deixa rápido de ser o que o CEO/presidente/dono deseja e se torna aquilo que o time interpreta das mensagens dos executivos, temperado pela sua experiência de vida e aquecido pelos seus próprios desejos e expectativas.

Por isso, a menos que seu negócio seja de uma pessoa só, não se relacione com nenhum ser humano e não dependa das motivações, necessidades e desejos de ninguém, você precisa entender de gente para chegar a algum lugar.

Todo negócio é um negócio de pessoas

Se você ainda não viu, recomendo que dê uma chance para uma série chamada “O Urso”, disponível no Star+. É a história de um chef de cozinha super talentoso que, após o suicídio de seu irmão, assume o restaurante da família. A primeira temporada é um espetáculo que, entre sanduíches maravilhosos para comer em um fim de noite e pitadas de estrelas Michelin, mostra como um time disfuncional precisa de um líder e de uma nova cultura para sair do buraco.

Do primo que não compra as ideias do chef à assistente que até compra as ideias, mas não o ritmo de mudança (passando pelo colaborador desmotivado e pelo outro que tem suas metas, mas está desconectado das prioridades do negócio), os conflitos são amplos e intensos. Mas, no fundo, a lição está sendo passada: não importa se estamos falando de adotar Inteligência Artificial no varejo ou mudar a organização de uma cozinha de bairro, tudo se resume às pessoas.

Envolva o seu time na transformação do negócio, derrube as inseguranças e mostre que as mudanças vêm para que as pessoas possam ser mais criativas.

Mas sem papo furado: deixe o discurso corporativo dentro da gaveta e fale francamente com a equipe. Toda mudança e qualquer novo processo envolvem incômodos que precisam ser resolvidos. As vezes é preciso dar um passo pra trás para poder dar um pulo pra frente. Clichê ? Sim.

Portanto, precisamos colocar as pessoas em primeiro lugar. De verdade.

Empresas dependem de pessoas para vender para pessoas – não importa qual seja seu segmento de atuação. Você vai vender para um CPF: então seja muito humano em tudo o que você fizer. Tenha empatia e cuide das pessoas. É assim que se forma a cultura em qualquer negócio de sucesso.

Léo del Castillo
Léo del Castillo
"Rápido é o que não volta pra trás." Essa frase ficou no vidro da agência por vários e vários anos. Criar a cultura do pensamento "lean digital" e fazer isso chegar até o chão de fábrica é, ainda hoje, um enorme desafio para as empresas que começam a fazer esse exercício.